Um dos meus roteiros preferidos, era ir a feira com os meus Pais.
Eu gostava de respirar aquele ar, carregado de múltiplos aromas.A juntar a tudo isto, toda a variedade de produtos, e todo o colorido e pregões que se ouviam, emprestava aquele local, uma grande singularidade.
Era o ponto de encontro de gerações, e de muita gente oriunda de várias paragens do concelho, e de todos os estratos sociais.
Nós já conhecíamos os feirantes, e os artigos que vendiam.
Claro está que eu tinha uma grande preferência pela dona Carlota, que vendia uns doces caseiros maravilhosos.
Era uma personagem pitoresca.
Além de muito simpática, e que nutria por mim um carinho muito especial, vá-se lá saber porquê!
Era dotada de um bigode que fazia inveja a muitos homens.
Eu que nunca fui dado a beijos, naquele momento sentia-me feliz por tal facto, pois não gostaria nada de me sentir beijado por uma boca encaixilhada em tão másculo bigode.
Ó meu amor, estou a meter dois bolinhos a mais para comeres na viagem.
Não o estrague com mimos dona Carlota, disse a minha Mãe sorrindo.
A, agora.
Só é pena que seja por uma velhota.
Não é Diogo?
Comecei a corar, e sorrindo agradeci-lhe.
De nada meu amor, dei porque quis.
Seguimos viajem, já a lambuzar-me com um daqueles bolos deliciosos.
O que foi?
Diogo, limpa a boca e o nariz. Já tens farinha do bolo por todo o lado.
Comia com tanto entusiasmo, que o meu Pai gracejou dizendo:
Até parece que não comes há 15 dias!
Pois, mas o que é doce nunca amargou, não é filho?
Respondeu-lhe a minha Mãe.
Íamos caminhando a desfrutar de toda aquela panóplia de produtos, cheiros e pregões.Ó freguesia, olhem calças, é pró menino, e prá menina!
São da moda!
Olha que calças bonitas meu amor!
Não gostas?
Tenho mais modelos!
E são de marca!
Não, obrigado não quero.
Hoje não, acrescentou a minha Mãe.
Achava piada ao tratamento dos feirantes para com os clientes.
Ó riqueza, ou ó meu amor.As vozes misturavam-se com o megafone do Sr. Augusto que leiloava jogos de cama, e atoalhados.
Quem dá mais?
É a última oportunidade.Ninguém dá mais?
Fica para aquele cavalheiro.
Depois tínhamos a banca do Sr. Jorge que vendia cassetes e cds com os sucessos recentes.
Olhe!
Ó senhor!Bote a tocar o Quim Barreiros!
Sugeria uma transeunte.
Era um barulho diversificado, mas ao mesmo tempo agradável, pela beleza que emprestava ao recinto da feira.
Naqueles dias a vila ganhava outra vida, tinha um bulício que em circunstâncias normais não acontecia.
Estávamos nós a passar junto dos vendedores de galinhas, quando uma delas fugiu, esvoaçou, assustando uma senhora, que por sua vez, me abalroou.
Quase me deitava por terra.
Agrediu-me com os seus longos e avantajados seios.
Magoei-te?
Não!
Desculpa meu amor!
Diabos levem a galinha!
Não!
Desculpa meu amor!
Diabos levem a galinha!
Não faz mal, disse eu, a recompor-me daquele episódio.
Olhei para os meus Pais que disfarçadamente riam, a bom rir, principalmente o meu Pai.
Tem uma piada?O meu desabafo ainda lhe estimulou mais as gargalhadas.
Deixa lá filho, já passou, dizia a minha Mãe, ao ver-me com uma expressão de aborrecido, e envergonhado.
Aqueles personagens de aventais coloridos e a irradiar alegria exerciam sobre nós um verdadeiro contágio, ao qual não podíamos ficar indiferentes.
Os meus Pais lá foram comprando os artigos que precisavam, cujos preços fossem convidativos.Eles sabiam regatear com os vendedores o custo dos produtos que pretendiam adquirir.
Principalmente a minha Mãe que esgrimia todos os argumentos para poder comprar o mais barato possível.
Estava ali bem patente o instinto de dona de casa, saber gerir é uma virtude, e a minha Mãe tem-na.
Entre saudações do meu Pai, a várias pessoas, já que era bastante conhecido na vila, bem como a minha Mãe, eu, também ia encontrando colegas de escola, e até mesmo professores e funcionários.
A feira, não há dúvida, que mais se assemelha a uma peça de teatro, onde os atores são os vendedores, e nós os figurantes.
É um local de convívio entre todos, e de alegria, assente na mais perfeita reciprocidade de quem vende, e de quem compra!
DIOGO_MAR
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