quinta-feira, 31 de outubro de 2013

HISTÓRIA SEM IDADE


Foi numa tarde pardacenta, de verdadeiro ócio, que nada nos apetece fazer, que despoletou em mim a vontade de ir até ao meu velho sotam.
Tinha espreitado pela janela do meu quarto, e constatei do frio que estava lá fora, de mão dada com um céu toldado de nuvens.
Vesti um fato de treino, de resto é a indumentária que mais gosto de trazer por casa.
Corri a tampa, era como se estivesse a abrir a janela do tempo, onde estão guardados anos de múltiplas vivências.
Mal esta deslisou, as minhas narinas foram inundadas por pó, e um cheiro marcante a mofo.
Depois de uma série de espilros, lá continuei a minha cruzada de remover pó e algumas teias de aranha, que pareciam ter feito uma barreira protetora as minhas recordações.
Ali estava ao canto o meu velho cavalinho de madeira, que já teve honras de um poema aqui neste blog.
Abria cada caixa como se fosse uma prenda acabada de receber.
Era uma verdadeira incógnita o que lá estaria dentro.
Até o frenesim de abrir as caixas me faziam voltar aos tempos de criança, faminta de saciar a minha curiosidade.
A primeira estava cheia de carros de coleção, alguns já oxidados pelo tempo.
Eles foram os meus campeões em corridas que fazia com os meus amigos.
O meu preferido era um carro vermelho que de tanto uso estava descolorado.
Olhei durante alguns minutos rebobinando o filme da minha memória.
Filo deslisar no chão do sótão.
Estava lento, tinha perdido o fulgor de outros tempos.
Tirei os para fora da caixa, um a um, como se de um livro se trata-se, e até era mesmo isso, um livro repleto de memórias de tempos longincos mas que eu gostava de reviver, folheando página a página, com uma docilidade ternurenta.
Estava a conquista das minhas origens.
Não tinha reparado que bem lá no fundo estava uma cobra e uma tarântula de borracha que faziam as minhas delícias para assustar as pessoas pelo carnaval.
Ups!
Desta vez quem se assustou fui eu!
Logo eu, que detesto répteis.
Esfreguei os braços já que tinha ficado com pele de galinha, voltei a Metela no sítio de onde tinha saído.
Ainda recordo do grande susto que preguei a Miquinhas padeira, quando lhe pendurei no puxador da porta a cobra.
Brincadeira que me custou uma bofetada da minha mãe, e um castigo, já que a senhora sentiu-se mal, chegando mesmo a desmaiar.
Abri a segunda caixa.
Estava cheia de animais que vinham no interior de uma marca de detergente em pó para lavar roupa.
Bom, tanta bicharada que dava certamente para fazer um jardim zoológico completo.
Libertei os todos.
Agora estava rodeado por carros e animais.
Reparei nos cavalos que punha ao serviço dos guardas do castelo, que fazia em lego.
Fui para a terceira caixa, era a maior de todas, tinha vindo lá dentro a máquina de lavar roupa.
Abri as tampas, carregadas de pó, la vieram mais meia dúzia de espilros.
Atchim!
Acho que por este andar vou sair daqui sem nariz.
Soltei uma gargalhada, ao deparar-me com a minha primeira mochila, tinha estampado o Marco.
Contemplei a durante alguns instantes.
Tinha transportado nela muito daquilo que hoje sei.
Foi o primeiro degrau de uma longa escadaria, de aprendizagem e claro conhecimento.
Apoderou-se de mim uma nostalgia revestida de um misto de alegria e de saudade.
Foi como se o relógio parasse.
Vasculhei toda a caixa, numa verdadeira ânsia de ver as histórias, que ali estavam guardadas.
Fisgas, bolas, pião, cubo mágico, ioiô berlindes, lego, carros telecomandados e uma velha locomotiva.
Seria ela a máquina do tempo, de uma viagem que eu era o maquinista?
Mas esta panóplia de recordações não se ficava por aqui.
Os meus jogos, do micado, o sabichão, o monopólio, batalha naval.
Eis que surgem as barbatanas os óculos e as boias de levar para a praia.
Dentro da minha velha e gasta mochila, lá encontrei as minhas cadernetas de cromos que folheei lentamente como se estivesse a venerar os meus heróis.
No o meu estojo, ainda morava um lápis a minha aguça, a borracha e os cromos repetidos.
Sem dar por isso, estava uma tarde passada, e bem passada.
Dei início a tarefa de recolocar, todo aquele passado mas que está bem presente, nas caixas de onde tinham saído.
Tinha dado corpo, a uma cúmplice aliança, com tempos idos, mas que fazem parte do meu eu, e que gosto de reviver.

 

 DIOGO_MAR

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

CARRINHO DE ROLAMENTOS



O meu carrinho de rolamentos
Corrida desenfreada de tantos sentimentos.

 
Rolamentos pregos corda e madeira
Eram os acessórios para tão efusiva brincadeira.

 
Corre voa, meu carrinho de rolamentos
Amigo de partilha de tão agradáveis momentos

 
Eras o número 7 veloz como uma seta
Inundavas-me o rosto de felicidade, quando eras o primeiro a cortar a meta!

 
Batizei-te com o nome de arco-íris
Meu campeão de tantas emoções
Foste o brinquedo preferido de tantas gerações.

 
No caminho do monte, ou na rua da aldeia
Corrias contra o tempo
Fazendo daquele instante uma verdadeira epopeia.

 
Sem pista nem mapa de navegação
Meu carrinho de rolamentos era a fonte de toda a minha ilusão!

 

 DIOGO_MAR