terça-feira, 4 de março de 2014

FRAGA ALTAR DA MINHA ALDEIA




Fraga encarquilhada pelo tempo, que se perde na história

Fraga gélida, imponente e com memória.

 


A erosão que o vento te castiga,

Faz um enlace ao traçado da minha vida.

 


A tua imponência rugas e frieza

Dão contornos únicos a tua beleza.

 


Deitado no teu colo a ouvir as histórias que tens para mim

Fechei os olhos viajei no tempo

Folheei o livro do sem fim!

 


Acariciava as tuas rugas, e as gretas expostas ao tempo

No meu ouvido ecoava a tua voz, chorava de tristeza dor e de sofrimento.

 


Fraga gigante confidente do universo

Brotas palavras tão belas que não cabem neste verso.

 


As feridas rasgadas pelo vento agreste, desventrando o teu corpo

Numa luta titânica contra o tempo, trespassaram-te deixando morto.

 


Ó fraga altiva e serena, guardiã de histórias que se perdem no tempo

Sussurras-me ao ouvido a melodia do sentimento.

 


Gosto de te contemplar, lá no alto da serra, como se fosses o adamastor

A herança que em ti encerras, é o testemunho do meu amor.

 


Amor que simbolizas, nesse corpo rude, escarpado e sofrido

És a bela de uma história onde fico adormecido.

 


Fraga da minha aldeia, marco geodésico altar para o mundo

Carregas aos ombros, séculos de lendas e mitos onde me perco feito vagabundo!

 


Património de Deus ou do homem, um testamento inacabado

Doaste-me um pedaço de ti, que ainda hoje guardo.

 


A tua voz, num murmúrio trémulo de saudade

Agastada pelos longos anos sem idade.

 


Viste o meu primeiro beijo, aquele que roubei

Fraga amiga, não contes a ninguém, eu também não contarei!

 


Um beijo de inocência da minha tenra infância

Dos verdes anos da minha adolescência.

 


Ainda hoje lá moras, adormecida dentro da tua altivez

Fraga da minha história

Acorda!

Diz comigo

Era uma vez?

 

 

 

DIOGO_MAR

9 comentários:

  1. Muitos parabéns!!! Maravilhoso.

    Beijinhos

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  2. Olá, Diogo!

    Está muto giro e muito bem construído este poema. Leve, mas profundo.
    Aquela fraga é como se fosse sua confidente, porque tem assistido a muitos "carnavais".

    Beijinhos e dia muito feliz.

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  3. Muy bello escrito, me encantó.
    Un abrazo para ti
    mar

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  4. Belíssimo poema, Diogo.
    E a música é divina.

    Grata por sua passagem pelo meu recanto.

    Abraço.

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  5. Muito bonito, Diogo.
    Gosto de fragas, altivas, mas protectoras no seu silêncio. :)

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  6. "Viste o meu primeiro beijo, aquele que roubei
    Fraga amiga, não contes a ninguém, eu também não contarei!" Gostei particularmente desta parte. É bonito imaginar que um objeto guarda tanto e mais que uma pessoa :)

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  7. Há lugares e objectos que guardam mais de nós que nós deles...

    Muito bonito e leve, Diogo. Gostei muito.
    Beijinhos

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